terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O TRÁGICO NAUFRÁGIO DO VAPOR «SULTANA»

O «Sultana» foi um dos inúmeros vapores de rodas ('steamboats') que, durante todo o século XIX, sulcaram as águas do Mississippi e dos seus incontáveis afluentes, transportando gente e mercadorias. Em 1865, no memorável e funesto dia 27 de Abril, produziu-se a bordo dessa embarcação fluvial uma inesperada e violenta explosão, que o incendiou e acabou por arrastá-lo para o fundo lamacento do chamado 'Pai das Águas'. O desastre ocorreu perto da localidade de Marion (Arcansas), situada a 8 escassas milhas ao norte de Memphis, cidade importante do estado do Tennessee. A guerra civil terminara havia pouco e o navio (proveniente de Nova Orleães) fora alugado pelas autoridades federais para levar para o norte 1 800 ex-prisioneiros de guerra. Havia a bordo também 200 civis, o que elevava o número de utentes do «Sultana» para umas 2 000 pessoas. 
Muitos dos ex-cativos nortistas haviam sofrido um longo cativeiro no campo de concentração de Andersonville (administrado pelos Confederados) e encontravam-se -na sua grande maioria- debilitados pela fome, pela doença e por outros maus tratos infligidos pelo pessoal desse horrível universo prisional. Que, como hoje muita gente sabe, foi um dos precursores de Auschwitz e de Dachau, de sinistra memória. Segundo a comissão de inquérito apurou (e isso foi confirmado por estudos feitos à posteriori) a explosão de 3 das 4 caldeiras do «Sultana» provocou a morte imediata de muitas centenas de passageiros e infligiu queimaturas (que se revelariam letais) a muitas dezenas de outros. Os raros passageiros ilesos do «Sultana» fugiram ao incêndio do navio saltando pela borda fora. Muitos deles morreram afogados. Quando foi possível estabelecer um balanço daquele que foi, até hoje, o maior desastre fluvial ocorrido no território dos Estados Unidos da América, chegou-se ao número de 1 438 mortos !
As causas do acidente são conhecidas : o «Sultana» -uma embarcação velha e cansada- com 1 720 toneladas de porte foi sobrecarrega. E isso, aliado ao facto de se ter exigido das suas máquinas um grande esforço na subida do Mississippi, foi-lhe fatal. Vários monumentos e lápides comemorativas assinalam esta trágica ocorrência. O último desses testemunhos foi inaugurado em 2010, no cemitério da Igreja Baptista de Mount Olive, em Knoxville, Tennessee. O que atesta que o desasastre do «Sultana» continua presente na memória colectiva do povo norte-americano. Iconografia, de cima para baixo : 1) aguarela mostrando o «Sultana» no tempo da sua glória; 2) prisioneiro do campo de concentração sulista de Andersonville. Que faz lembrar outros dramas e outros mártires; 3) lápide comemorativa junto ao local da tragédia, em Marion (Arcansas).

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