sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

OS CAÇADORES DE BISONTES


A profissão de caçador de bisontes (que implicava, também, a extracção e o curtimento das peles dos animais abatidos)  era, do ponto de vista social, uma das mais desprezíveis exercidas pelos homens brancos do Oeste americano. Trabalho rude e desconsiderado (mesmo ainda antes de aparecer o conceito de crime ecológico para a sua prática de abate sistemático de animais), os caçadores de bisontes eram recrutados, essencialmente, entre gente que tinha problemas com a lei estabelecida. Pelo menos entre aqueles marginais que possuíam bons dotes de atiradores e dispunham da força física necessária para empunhar e disparar uma espingarda Sharps do tipo ‘Big 50’; que era a arma ideal para abater, à distância, um animal com o porte imponente do ‘Bison bison’. Com fama de ser gente «suja, sebenta, mal barbeada, eles (os caçadores de bisontes) arrastavam consigo o cheiro da morte, não somente porque dá-la a esses serenos animais era a sua profissão, mas também, e frequentemente, porque eles tinham, no seu passado agitado, cometido assassínios. Banidos, foras-da-lei, bandidos, desertores, renegados encontravam nesta actividade praticada longe das autoridades, um refúgio mais ou menos temporário, na qual tinham a ocasião de serem votados ao esquecimento por ’marshalls’ ou xerifes. Na realidade, os caçadores de bisontes eram os únicos a possuir as qualidades físicas e o grau de abjecção necessários ao exercício de um ofício repugnante».
Cito aqui o consagrado (e saudoso) Jean-Louis Rieupeyrout, e umas linhas da sua conhecida e preciosa obra «Histoire du Far West». A actividade desta gente começou depois de ter terminado o chamado ciclo do castor, já na segunda metade do século XIX, quando as manufacturas do leste dos Estados Unidos começaram a receber substanciais encomendas de couros por parte da indústria local, mas também provenientes dos mercados europeus e asiáticos. Ora, como esses pedidos coincidiram com o avanço para o Oeste e com a descoberta das imensas manadas de bovinos selvagens, a escolha foi fácil : recrutar atiradores e organizar o massacre sistemático de uma das mais emblemáticas criaturas da fauna norte-americana.
O número de animais abatidos é incalculável, mas cifra-se, sem dúvida possível, a muitas centenas de milhar de cabeças. A ignóbil caça ao ‘rei das pradarias’ durou até à quase total extinção da espécie. O extermínio dos bisontes ocorreu em paralelo com o declínio das nações ameríndias das grandes planícies do Oeste (facto que muitos peritos julgam ter sido premeditado), que tinham nestes animais -que elas caçavam apenas para assegurar a sua sobrevivência- uma verdadeira fonte de vida. E que elas, por essa razão, consideravam sagrados.
Como não podia deixar de ser, o cinema hollywoodiano também tomou o ‘buffalo’ como tema (ou subtema) de muitos dos seus filmes. Os melhores talvez tenham sido «A Última Caçada» («The Last Hunt»), que Richard Brooks realizou em 1956, e «Danças com Lobos» («Dances with Wolves»), que Kevin Costner produziu, dirigiu e protagonizou em 1990.   /////////   «Pai, tem piedade de nós (…)/Nós somos pobres e fracos/E sozinhos nada podemos/Ajuda-nos a voltar a ser o que já fomos/Felizes caçadores de bisontes». (De uma oração dos pele-vermelhas da Grande Pradaria, integrada na cerimónia da Dança dos Espíritos).
///////////// Imagens, de cima para baixo : 1- Dois caçadores esfolando uma das suas presas (foto do séc. XIX). 2- Soberbo animal, descendente dos raros sobreviventes do massacre. 3- A poderosa espingarda Sharps, modelo 1874, foi uma das armas preferidas dos caçadores de bisontes. 4- Amontoado de peles, esperando transporte para os mercados do leste dos Estados Unidos.

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