terça-feira, 11 de dezembro de 2012

INTANGÍVEL «SHANE»

Nunca consegui ver este filme -de qualidade verdadeiramente excepcional- em Portugal. Recordo-me de tentar assistir a uma reposição de «SHANE» (no Cinema Ginásio do Barreiro), que ali teve lugar em ano indeterminado da primeira metade dos anos 60. E de sair (frustradíssimo) da fila -onde passara cerca de 2 horas- depois de um dos funcionários dessa saudosa sala de espectáculos ter informado, quando eu ainda me encontrava longe da bilheteira, que a lotação estava esgotada. Fui para França em Janeiro de 1965, mas também lá não me foi dado assistir a este grandioso filme de George Stevens, sobre o qual eu ouvira contar maravilhas. Tanto aos amadores de westerns, como aos outros cinéfilos. Um dia, em Lisboa (quando gozava férias em Portugal), vi a famosa e até então inacessível película, exposta na montra de um videoclube da Baixa. Os leitores de cassetes acabavam de aparecer, mas ainda não havia aquele negócio que se chamaria venda directa. As cassetes (VHS) só existiam para aluguer. Exclusivamente ! O que frustrava, desde logo, a minha pretensão de adquirir a dita cópia, para futuro visionamento em França, país da minha residência. Recordo-me de, apesar da minha natural timidez, ter implorado o funcionário do videoclube para que me vendesse a fita. O Homem hesitou, apresentou-me mil desculpas e acabou por recusar. Finalmente, e perante a minha insistência, lá telefonou para uma sucursal da sua empresa situada em Alvalade (numa época em que as casas de aluguer de cassetes eram às centenas na capital portuguesa), que lhe confirmou ter uma cópia já em avançado estado de utilização e que, o gerente, estava disposto a cedê-la pelo preço de custo : 15 000$00. 15 contos ! Uma soma que, naquele tempo, correspondia a muitos dias de trabalho de um português assalariado. Tenho vergonha de o dizer, mas a verdade é que cedi à chantagem. E lá fui (a uma agência bancária vizinha) converter umas valiosas notas de Francos Franceses para pagar o meu capricho. Que me foi entregue cerca de 1 hora depois do negócio firmado. A fita, em segunda mão, era ainda de muito boa qualidade e, talvez por essa razão, o meu arrependimento tivesse sido de curta duração. Até porque vi, fascinado, um western que eu, ainda hoje, coloco entre os três melhores que jamais me foram dados a apreciar.
Com efeito, depois de «A Desaparecida» (de John Ford) e de «Johnny Guitar» (de Nicholas Ray) «SHANE» é o filme do género que eu mais aprecio. Neste filme (que visionei mais de uma dúzia de vezes e que eu conheço, pois, de cor e salteado) gosto da história (inspirada num livro de Jack Schaeffer), do magnífico trabalho dos intérpretes (Alan Ladd, Van Heflin, Jean Arthur, Brandon DeWilde, Jack Palance, Ben Johnson, Edgar Buchanan, etc), das bonitas imagens a cores (captadas, no Wyoming, pela câmara de Loyal Griggs) e da soberba partição musical da autoria do compositor e maestro Victor Young. Esta apologia de uma família do Oeste, apegada à terra que desbravou e do seu encontro fortuito com um pistoleiro cansado da violência é sublime e contraria (aliás como muitas outros filmes) a ideia de que o western é um género menor. Em Portugal, o título original de «SHANE» (que George Stevens realizou em 1953) não foi traduzido, o que eu acho muito bem. No Brasil, esta fita chama-se «Os Brutos Também Amam»; em Espanha «Raíces Profundas»; e em França «L'Homme des Vallées Perdues». Cópias DVD estão editadas em todos os referidos países.

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