sábado, 29 de dezembro de 2012

O 'KEELBOAT', BARCA OITOCENTISTA DOS RIOS DA AMÉRICA DO NORTE

Popularizada por alguns westerns (dos quais mais adiante falaremos), o 'keelboat' era uma embarcação concebida para navegar à vela, a remos, à vara e 'à la cordelle'. Era, geralmente, de dimensões modestas, construída com madeiras das florestas americanas e com o fundo chato. Esta barca dispunha de uma superestrutura (que ocupava mais de metade do seu comprimento) e de um mastro implantado a meia-nau ou, nalguns casos, mais chegado à proa. Esse mastro arvorava uma vela de pendão. O seu leme era de grandes dimensões, mas podia ser accionado, em situações normais, por um único homem; que devia, no entanto, ter grande força física e alguma perícia no seu manuseamento. O seu acima referido habitáculo (que permitia o acesso aos porões de carga) deixava um espaço relativamente largo em cada bordo, de modo a facilitar a tarefa dos tripulantes que empunhavam as varas, quando a falta de vento se fazia sentir ou quando era necessário navegar a contra-corrente. Para defesa da barca e do seu carregamento, o 'keelboat' estava, por vezes, armado com uma pequena peça de artilharia. Geralmente mais ruidosa do que mortífera, mas, ainda assim, eficaz para afrontar a pirataria fluvial e espantar os pele-vermelhas das regiões atravessadas. Devido ao seu fraco calado -menos de 1 metro- esta barca podia navegar em ribeiros pouco caudalosos ou em rios com pouca água, devido à estiagem. A sua tripulação era variável, podendo atingir uma vintena de homens. O 'keelboat' foi utilizado por comerciantes itinerantes, por traficantes de peles (sobretudo durante a grande época da caça aos castores), por militares, por exploradores e por aventureiros de toda a espécie. Este tipo de barca navegou praticamente em todos os rios -grandes e pequenos- do Oeste (mas não só) e muito em particular nos cursos de água da vasta bacia do Mississippi-Missouri.
Como disse acima, foi o cinema norte-americano que lembrou a existência desta embarcação (modesta, mas preciosa) aos europeus. Vou recordar aqui (de maneira não exaustiva) fitas em que o 'keelboat' foi mostrado e nas quais esta barca teve, por vezes, um papel importante. Começo pelo inolvidável filme «Céu Aberto» («The Big Sky», Howard Hawks, 1952), no qual um 'keelboat' baptizado «Mandan» sobe o curso do Missouri até ao território dos belicosos Blackfeet, onde os seus ocupantes projectam fazer bons negócios, graças a uma insólita (e bonita) moeda de troca : uma princesa resgatada pelos aventureiros brancos a uma tribo inimiga. Lembro-me, depois, da frenética corrida entre 'keelboats' da película «Davy Crockett e os Piratas («Davy Crockett and the River Pirates», Norman Foster, 1956), uma produção dos estúdios de Walt Disney, que atraíu aos cinemas inúmeras crianças e muitos adolescentes. Também me acode à memória o filme «Horizontes Desconhecidos» («The Far Horizons», Rudolph Maté, 1955), no qual uma embarcação deste tipo é utilizada pelos membros da expedição de Lewis e Clark nas suas deambulações pelos rios dr um Oeste ainda por desbravar.  Lembro-me de 'keelboats' serem visíveis na superprodução «A Conquista do Oeste» («How the West Was Won», Hathaway/Marshall/Ford, 1962), sobretudo naquela parte consagrada aos rios.
Há, naturalmente, muito mais outras películas que evocaram esta típica e útil embarcação fluvial. Mas, para não ser fastidioso, quero recordar apenas mais uma : a excelente fita «Um Homem na Solidão» («Man in the Wilderness», Richard Sarafian, 1971), na qual um 'keelboat' -que nunca vemos navegar- partilha o protagonismo com o seu capitão (John Huston) e com o caçador de castores Zachary Bass (Richard Harris). Aqui fica, sumariamente contada, a 'história' de um dos barcos mais importantes da Conquista do Oeste. Que, mesmo para a maioria dos westerners, continua a ser um ilustre desconhecido. Salvo, talvez, para os de nacionalidade norte-americana, que conhecem algumas das réplicas que, actualmente, transportam turistas em vários rios dos 'states' ou em parques de atracções...

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